sábado, 23 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Salvem as criancinhas
Sobre a história das adopções gays e dos males que a maricagem faz à criançada, está aqui uma leitura gira. Imaginar que a homossexualidade permaneceu na espécie humana precisamente pelo valor que tinha na criação dos mais pequenos é coisa da mais fina ironia.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Networking
A duração média de um blogue do Rui é três horas. Mas continua a ser do melhor que anda para aí.
Dia macchiato
Há pouco vi, na televisão, o episódio «Relvas vai ao Clube dos Pensadores». É uma espécie de «Anita» mais gordita e mais moderna. Os senhores manifestantes até poderiam ter boa intenção, mas, no fundo, acabei a solidarizar-me com o pobre Relvas, que nem a Grândola tinha decorada e foi obrigado a improvisar. No fim, estas coisas acabam em nadas. E ainda bem. Quando acabam em alguma coisa é, geralmente, pior.
Urina
Falta-nos uma teoria geral da urina. As nossas cidades ergueram-se sobre caudais de mijo que, acredito eu, permanecem nos alicerces dos nossos edifícios, entranhados no cimento e nos tijolos e no ferro. A acumulação era inevitável: aos homens, nas ruas, importava pouco a busca pela localização ideal para vazar o baixo-ventre; já as mulheres, excelsas donas-de-casa, não podiam sustentar durante muito tempo potes cheios de líquido amarelo dentro de portas. Não que o cheiro afectasse – havia pior – mas porque os potes eram poucos e o mijo muito. Este mijo nos nossos chãos é talvez o mais proeminente rasto do que somos. Veja-se como num caos apocalíptico de um mundo de cegos, Saramago apontou precisamente as ruas cheias de merda (um dia lá chegaremos) e mijo.
Esta natureza tão singular, no entanto, nunca foi devidamente reconhecida. A função social da urina não tem expressão como tema de investigação. A academia despreza-a e, como sempre, compete à subversão artística o enaltecimento. Quando pensamos em arte contemporânea, pensamos num urinol. Há ironia nisto. Mas as manifestações da sua relevância podem ser mais subtis. Na Suécia, há percas alteradas pelo facto de se verem a nadar no mijo humano. Na Nigéria, a garotada produz energia com o próprio chichi. Na primeira temos a marca do homem no ambiente em todo o seu esplendor, a marca de um homem que não se limita a usufruir, mas que também conspurca e destrói; na segunda temos um indício de exploração, que não faltará muito para que vejamos gente a vender o seu mijo e a beber água como profissão. Se os nossos prédios são construídos sobre caudais de urina, a nossa moral colectiva também o é. Ou não fossem ferramentas das nossas criações precisamente as ferramentas com que mijamos.
Há que definir a função da urina. A urina não é excreção banal, usada para a conveniência momentânea. Tem estatuto. E esse estatuto é o da mais funda vileza. Não há bondade que provenha do mijo e qualquer tentativa de reabilitação desembocará invariavelmente em desgraça. Vejam-se as percas ou os nigerianos. Não há apelo para a maldade do chichi. Resta-lhe ser usado para o seu único fim verdadeiro: o mal. Nenhuma arma humana se lhe compara. A palavra, o punho, ou mesmo o cuspo não têm a mesma envergadura de um agarrar violento do sexo para a projecção de um jacto de urina desdenhosa. Não será por acaso que Sena terá desejado um túmulo que «lavem rindo com o seu mijo quente» as «crianças que brincando venham jogar à minha [sua] volta». O cuspo de Vian será certamente mais famoso, mas o mijo de Sena será sempre mais cruel.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Domingo
«"It is not always false of x that x begat Charles II. and that x was executed and that 'if y begat Charles II., y is identical with x' is always true of y"»
Bertrand Russel, On Denoting (1905)
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Os bufos, as facturas e o meu pastel de nata
Um bufo é uma bufa com inflexão de género. É certo que, ao contrário da bufa, o bufo não tem necessariamente de ser sorrateiro – há bufaria bastante estridente. Nem, admitamo-lo, tem de ser desagradável aos sentidos – marca distintiva do género da dita. Mas, apesar das pequenas e limitadas diferenças, os paralelismos são quase infinitos. São ambos difíceis de localizar quando o grupo é grande. Os ganhos são limitados – no caso da bufa, o autor é recolector exclusivo dos proveitos, na maioria das vezes com custos para os demais; quando há bufaria, o bem poderá vir para o seu autor, mas também para alguma companhia. Finalmente, e aqui entramos no cerne da questão, que é muito importante para a gente: tanto a bufa como o bufo são injustos. Não pode haver bufa justa, pelo menos quando atirada assim de frente para os outros. E não pode, também, haver bufo justo.
Não se pode, por isso, misturar esta história dos bufos com a outra, a das facturas. A ideia de ter um inspector ali em frente ao Martinho da Arcada a pedir-me uma factura do pastel de nata que comi aterroriza. Mas não aterroriza por fazer de mim um bufo. Aliás, atendendo à definição acima exposta, eu só poderia ser um bufo se fosse injusta a divulgação da minha informação. Pedir uma factura pelo serviço e apresentá-la não seria, portanto, bufaria. Entra, no limite, no âmbito do controlo justo, não bufo, por assim dizer.
O problema com os senhores da Autoridade Tributária é outro. O Francisco José Viegas explica-o bem, mas teve a infelicidade (ou felicidade) de falar em cus e já ninguém prestou atenção ao resto. O problema está no facto de a minha factura ter lá informação sobre o meu consumo. E o meu consumo é uma das minhas actividades mais privadas. Exigir-me uma factura do meu pastel de nata é uma intromissão violenta na minha privacidade. O pastel de nata parece singelo, mas imagine-se que, em vez dele, eu comprei um produto para me fazer crescer o cabelo, sendo que não quero que ninguém saiba que há algum problemazinho com o couro cabeludo. Ou imagine-se que comprei pau-de-cabinda, ou uma revista pornográfica. A simples possibilidade de cruzar estas minhas compras com outros eventuais registos é só por si um abuso. Mesmo que, como nos diz a propaganda oficial, combata essa coisa da «economia paralela». A mal da originalidade, economia paralela o caralho.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Franquelim
O dr. Franquelim, atenção, não tem culpa de nada. Ou pelo menos assumo isso mesmo, para bem da inocência de um texto que tem menos culpa ainda. Não é relevante que o dr. Franquelim tenha, de facto, sido bandido. O que é relevante é que o dr. Franquelim andou, como diria a minha mãe, lá metido. Tenha essa sido ou não a pior decisão da sua carreira, a qual nos deveria interessar muito pouco. Poderemos, até, assumir que o dr. Franquelim é rapaz distraído, que lhe passou tudo aquilo ao lado, que nem reparou, ocupadinho que estava com os seus afazeres. O que não podemos, valha-nos qualquer réstia de dignidade, ainda que pobrezinha, é dar-lhe uma Secretaria de Estado. Não há aqui física quântica. Já na defesa pública que fez Álvaro Santos Pereira, aí sim, aproximamo-nos perigosamente da dita.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Pequeno homem
«Não existem mais homens livres na nossa terra, conscientemente. Claro que eles o são, pelo direito inalienável da humanidade, mas bastou uma só mentalidade tortuosa para nos tornar prisioneiros de uma tela invisível e inconcebível, bastou um regime de trinta e três anos para os tornar culpados e conseqüentemente vassalos de um crime... inexistente.
Quem negar a Salazar gênio político, erra quanto a nós. Política não é só ciência, psicologia aplicada, correlação econômico-filosófica. É também algo mais. Por vezes, os verdadeiros revolucionários, quer dizer, aqueles que lutam contra e não por, qualquer coisa, negam apressadamente quaisquer atributos ao inimigo, raciocinando simplisticamente dentro do próprio código moral. Nada mais falso. (...)
Preconizador de uma pequena economia, falando sempre num pequeno país, criou a silhueta horrenda de um pequeno homem: o que ele julga ser o português. Católico, foi-o nas regras da falsa humanidade no trato. Mas deixou de o ser sempre que a Igreja pressupôs o gesto totalmente gratuito, grandioso. No entanto, afirmar que essa falta de qualidades reais exclui, por si só, o êxito momentâneo, parece-nos tragicamente falso. E a prova é a pequena operação salazarista: dura há trinta e três anos e, apesar de fortemente abalada, subsiste.»
Victor Cunha Rêgo, 1959
Subscrever:
Mensagens (Atom)