segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Pequeno homem

«Não existem mais homens livres na nossa terra, conscientemente. Claro que eles o são, pelo direito inalienável da humanidade, mas bastou uma só mentalidade tortuosa para nos tornar prisioneiros de uma tela invisível e inconcebível, bastou um regime de trinta e três anos para os tornar culpados e conseqüentemente vassalos de um crime... inexistente.
Quem negar a Salazar gênio político, erra quanto a nós. Política não é só ciência, psicologia aplicada, correlação econômico-filosófica. É também algo mais. Por vezes, os verdadeiros revolucionários, quer dizer, aqueles que lutam contra e não por, qualquer coisa, negam apressadamente quaisquer atributos ao inimigo, raciocinando simplisticamente dentro do próprio código moral. Nada mais falso. (...) 
Preconizador de uma pequena economia, falando sempre num pequeno país, criou a silhueta horrenda de um pequeno homem: o que ele julga ser o português. Católico, foi-o nas regras da falsa humanidade no trato. Mas deixou de o ser sempre que a Igreja pressupôs o gesto totalmente gratuito, grandioso. No entanto, afirmar que essa falta de qualidades reais exclui, por si só, o êxito momentâneo, parece-nos tragicamente falso. E a prova é a pequena operação salazarista: dura há trinta e três anos e, apesar de fortemente abalada, subsiste.» 

Victor Cunha Rêgo, 1959

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