domingo, 24 de fevereiro de 2013

Amor e Morte


Os protagonistas de Amor são velhos; sobre a protagonista abate-se uma doença de velho; na narrativa há jovens negligentes; conhecemos enfermeiras que cuidam de velhos. E apesar disso, Amor não é uma alegoria sobre a velhice. Poderia ser, mas não é. A velhice é pretexto, é contexto. Evidentemente, como cabe a um bom cineasta, é tratada de forma belíssima. Mas tanto quanto as estantes de livros na sala-de-estar, ou o sotaque da Rita Blanco. O que é verdadeiramente fundamental – perdoe-se-nos a linearidade – é o amor.
Toda a película é um ensaio sobre as contingências de um amor que, ao contrário da vida, é eterno. Mais, é um ensaio sobre o confronto dessas propriedades dicotómicas: a eternidade de um e a finitude da outra. E é aqui que reside a importância do contexto. Se Amor fosse a história de dois adultos normais, este confronto estaria ausente, porque a morte antes da velhice é evento que se julga quase irregular. Não é da natureza das coisas. Utilizando para peões dois velhos, não há irregularidades; não há escapes para o embate com a realidade imposta. Vendo dois velhos, para os quais a morte próxima é uma condição necessária, não há espaço para tornearmos o problema com considerandos mais ou menos pertinentes sobre o destino. Enfrentamos o verdadeiro problema sem desvios. 
No fundo, Haneke dá-nos aquilo que é a melhor versão dos nossos futuros. O melhor que nos pode acontecer é perceber um dia que temos alguma eternidade que choque com a nossa efemeridade. E essa ideia faz-nos chorar, talvez porque também o faça chorar. Haneke tem 70 anos.

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